terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pitadas de mentes (talvez um pouco dementes)

Um breve apanhado de algumas frases que nos últimos tempos chamou a minha atenção.

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Não existem fatos, apenas interpretações.
Nietzsche

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Sexo causa gente.
Millôr Fernandes

**.*.**

Não deixe que seus medos tomem o lugar dos seus sonhos.
Walt Disney

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O bom senso é o que há de mais bem distribuído no mundo, pois cada um pensa estar bem provido dele.
René Descartes

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A esperança é o urubu pintado de verde.
Mario Quintana

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O navio é seguro quando se está no porto. Mas não é por isso que se fazem navios.
Desconhecido

**.*.**

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Já conhecem o site de concursos?

Lá tem sempre novidades!

http://www.concursosliterarios.com.br

Confira!

Mudar o visual do Blog

Colegas,

Tem novas versões de blog que podemos mudar.
Esta que eu coloquei é uma sugestão.
Inclusive, podemos alterar este nome.

O que vocês acham?

Tainá

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Como estão as escritas?

E aí galera literária, como estão os processos de escrita?
Eu estou retomando a minha novela agora. Andei parada nestes dias frios e cinzentos. Mas a leitura está me atiçando novamente a escrever.
Espero em breve ter mais textos para compartilhar.

Abraços,
Tainá

domingo, 1 de agosto de 2010

PERGUNTAS


Chuva, chuva, chuva. Embora invisível, imóvel adornada por um sol de rachar dentro de uma noite escura e fria, a chuva evidencia impiedosamente o vazio absoluto de minha total falta de inspiração. Faço perguntas vitais, mas não há ninguém para ouvir minhas indagações. Preciso saber por exemplo se vou ficar rica nos três próximos dias. Se as cronicas que escrevo na oficina, tem cara de cronicas ou de romance policial com final trágico. E principalmente se o pastel surpresinha da Feirinha da Ordem, nas quintas feiras vai modificar o sabor ou a surpresa será sempre a mesma.

Vou dormir com esses questionamentos. Talvez os sonhos me tragam alguma resposta, ou quem sabe a luz de uma lua imaginária cheia de encantos acalmem minhas autenticas aflições.
Ceres Colibri.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Mais uma produção de Elvira Federici, sempre pensante. Italiana que vive em solo tropical há cerca de três anos.
É interessante perceber a assimilação cultural pela vivência no Brasil, exposta e manifestada em palavras. Um texto que pode-se chamar de estar em língua presente.



Quem sabe, se tivermos sorte esta noite vai haver um luar.

Um luar bonito para esclarecer idéias duvidosas e tornar inúteis todas as palavras

de gurus respeitáveis. Ao luar eu li os livros mais importantes para mim.

Gostava daquela luz meio fria que parecia passar para o outro lado da página.

As páginas ficavam tranlúcidas, as palavras surgiam de um claror feito leite de sabedoria.

Os olhos abertos demais, pois a luz não era feroz, ao luar a luz era palavra mesmo.

sábado, 5 de junho de 2010

Para o processo

Tenho cá minhas teorias "tortas" sobre escrever - e que ninguém me peça para explicar pois eu não saberia, mas creio que o que precisamos do outro, quando em processo de escrita, é justamente de estocadas que despertem um novo caminho de reflexão. Isso acontece quando colocamos nossas ideias, sobre a história e a trama, em pauta.
Eu jamais desprezo qualquer observação ou comentário, todos me oferecem alguma coisa, para o bem ou para o mal.
Mayra Coelho

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Viagem



Autopista, faixa contínua.
Faróis atropelam mariposas.
Árvores soturnas, lua nova.
Pios, urros, pássaros noturnos.
Postes e fios em perspectiva.

Curva em declive
Declives em curvas.
Árvores soturnas
Olhos noturnos.
Pneus assoviam
Pista em rodopios
Freios vazios.
Curva, olhos, uivos.

Precipício... Pneus rodam no ar.
Pedras, galhos, grilos.
Coruja alsa vôo.

Sangue quente e rubro
Brota na testa.
Na bochecha, tão linda!
O corte profundo,
Expõe os dentes.
Socorristas se apressam.


Stela Siebeneichler

terça-feira, 18 de maio de 2010

Demorei, mas aí está o meu post!

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Acho que estou louca. Tenho outra voz dentro de mim.

Não é uma voz que aconselha ou critica. Ao contrário, é apenas dada a conversar. Fala das bobagens mais variadas.

Eu nunca dei muita atenção. Quando vem, como quem não quer nada, a me falar do tempo para puxar assunto, eu desconverso. Finjo que não é comigo.

Ela tenta então discutir sobre a vida dos outros, conhecidos.

- Viu fulano?! Está com uma cara estranha, de quem aprontou alguma.

Eu até entrava na conversa dela em um primeiro momento, mas assim que percebia que era a tal voz, eu me calava. Não é correto falar com vozes dentro da gente. Cada pessoa que conheço tem uma voz, apenas uma. E eu sou uma pessoa, apenas uma. Portanto não posso ter outra voz dentro de mim. E se essa voz tentar um dia assumir o meu lugar? Este é um risco que não quero correr.

Mas não se engane, esta voz não é tão amigável quanto parece em um primeiro momento. Ela tenta me enganar constantemente. Muda o seu tom. Imita descaradamente sons que ouço durante o dia. Teve uma vez que até tentou falar em outra língua comigo. Eu não falo outra língua, nunca pude estudar esse tipo de coisa. Mas também, para que? Para falar com vozes estrangeiras na minha cabeça? Não, obrigada!

Eu nem imaginaria que esta vozinha iria me oferecer perigo. Deixei ela de lado, ali abandonada. Mas ela, em um plano vil começou a arquitetar maneiras sórdidas de me influenciar.

Eu não gosto de corvos, mas também não os detesto. Mas a voz sim. Ela não os suporta, nunca suportou. A primeira vez que ouviu já se pôs a reclamar:

- Som horroroso! Pressagia o mal.

Como se ela fosse grande coisa.

Tenho que concordar que são uns animaizinhos estranhos. Olhos grandes. Como se desvendassem meus pensamentos mais obscuros. Mas aí a pressagiar o mal é pura besteira.

Eu segui com minha vida normal, mas sempre que ouvia um corvo, a voz punha-se a gritar. O grande problema era que sempre tinha algum na esquina da minha casa.

Dias atrás, não sei se por cansaço ou pura falta de atenção, a voz foi mais forte que eu, venceu-me por instantes. Rosnou alto:

- Morra seu animal nojento!

Tapei minha boca mas o corvo olhava-me desconfiado. Pouco liguei, nunca me importei com pássaros me encarando. Fui para a casa com seus olhos ainda a me perseguir.

Mal sabia eu que era apenas o início. No dia seguinte eram 2 corvos. No outro, tinham 5. Em uma semana já era um bando.

Sempre me encaravam aonde quer que eu fosse. Cada movimento meu. Penduravam-se na minha janela enquanto eu tomava banho. Voavam disfarçadamente atrás de mim enquanto eu caminhava na rua. Espionavam-me a todo instante. Como se dissessem: eu sei quem você é, sei o que faz, sei aonde vai.

A voz tornou-se insuportável. Ficava irritava e ordenava que eu desse um jeito naquelas criaturinhas abomináveis.

- Mate-os! Mate-os todos!

Enlouquecia meus pensamentos. Deturpava a minha mente. E fazia tudo para me provocar.

Imitava sons de corvos enquanto eu dormia. Soprava provocações quando eu passava por eles. Incitava que eu os liquidasse de uma vez por todas. E até dava sugestões de como matar os pobres animais.

- Dê-lhes veneno! Atire neles! Destrua-os!

Eu não poderia matar aqueles seres inocentes por conta de uma voz. Mas também não poderia suportar aqueles bichos a assombrar a minha vida. Precisava eliminar algum deles. Ou os corvos ou a voz.

Eliminar a voz não seria uma tarefa fácil. Visto que estava dentro de mim, eu teria que entrar em mim mesma para encontrá-la. E como poderia entrar dentro de mim? Não posso revirar os olhos para enxergar dentro do meu corpo. Ou abrir a cabeça e retirar os pensamentos com as mãos, um a um, e separar o que não quero mais do que ainda me serve.

Eu poderia talvez pedir ajuda de alguém. Dizer-lhe:

- Não sou louca, não me entenda mal! Apenas ouço vozes que me dizem para matar coisas. Algo perfeitamente normal, creio eu!

De jeito nenhum. O que diriam de mim? O que as pessoas que conheço pensariam? Todos teriam medo das minhas vozes conversadeiras. Ninguém acreditaria que era apenas uma voz. As pessoas são assim, não costumam acreditar naqueles que são diferentes.

Sobram-me os corvos. Eu poderia matá-los de uma vez! Apenas isso! Afinal aves não vivem mesmo por muito tempo.

Kenya Sato

terça-feira, 11 de maio de 2010

O melhor amigo do homem

Tem dias, que é pura merda! E eu? preciso tomar uma cachaça.
Ursx, esses é dos bons!!!
Olha, não sou de beber. Não pense que sou de encher a cara todos os dias. É raro eu tomar uma birita. Só trabalho, feito um condenado. E de que merda adianta? Trabalho, trabalho e trabalho e to sempre na merda.
Mas amigo, me vê mais uma. Ursx-vixe!!!
Tive um dia de cão, mas daquele mais vagabundo que você pode imaginar.
Já ta tarde, né? Que horas são?
Eu queria ter um amigo nessas horas pra poder falar. Mas são tudo uns veado, filho de uma puta.
Tenho certeza que ela me traiu. Só pode! Ela nunca sai maquiada, daquele jeito.
Sabe, garrafa, a vida é uma coisa...


Ontem eu estava muito mal. Pensei que iria estourar meu fígado e rim. Não que eu esteja melhor, vendo que estou falando sozinho...

Ai que dor de cabeça! E já são... OITO E QUINZE!!!
Preciso correr para o trabalho.


Estava muito transtornado.
Tá certo que a vida é uma merda, mas eu tenho o direito de falar.
Posso falar?
É que eu não tinha entendido, achei que você ia me largar.
Você não vai me deixar, né?


Tainá Pires

Clássicos do cinema italiano

Repassando o convite da italianíssima e pensante Elvira,
Em cartaz:

"As mil e uma noites" 1974
"Mamma Roma" 1962
"Medéia, a feticeira do amor" 1969
"O evangelho segundo São Mateus" 1964
"Desajuste social" 1961

Entre os dias 18 e 23 de maio 2010 às 19h30min.
Local: Paço da Liberdade, Praça Generoso Marques, Centro.

O evento tem a presença do Diretor do Instituto Italiano de Cultura de São
Paulo, Attilio De Gasperis, com a palestra "Pasolini: uma desesperada vitalidade"
no dia 18 de maio às 19h30.



Vamos???

domingo, 9 de maio de 2010

Encontro secreto

Colibri estava a espreita num supermercado. Tão lotado que eu conseguia caminhar, piscar e respirar ao mesmo tempo sem ser percebida. Eis que Colibri faz um sinal, avisa que está tudo certo Pode publicar o seu texto lá, agente escritora secreta.
Pena que estava tudo tão armado para não nos descobrirem, que não avisei. Estava sem luz elétrica no casebre literário.

Retornando a luz, publica-lo-ei.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Estou viva...

Eu ainda não postei o meu texto, porque não consegui desenvolvê-lo depois da aula. Mas até o final de semana ou eu termino ou o coloco para vcs me ajudarem a finalizar.

E vamos analisar os textos que aqui estão!

Revelações Secretas...

- Não, não pode continuar desse jeito. Não suporto mais! Vou acabar agora mesmo com essa treva! E lá do oitavo, olho para baixo. Sinto tontura. Fecho os olhos... E num desses momentos de total desequilíbrio meu corpo despenca lá de cima em direção ao solo.

É nessas circunstâncias que em poucos segundos, inconscientemente fazemos uma retrospectiva de momentos marcantes de nossas vidas...

Como um corpo em queda livre tem uma aceleração constante e uniforme, vou usar dos meus direitos e reproduzir esta cena em câmara lenta com alguns congelamentos de imagens em momentos específicos. Assim poderei confessar o inconfessável... Relatos que só vem a tona em situações cruciais.

Aos três anos de idade, matei meu professor de geografia, só por que o pobre falou que Maceió era uma cidade litorânea, capital de Alagoas, localizada na região Nordeste do país. Insistentemente ele dizia que tal palavra não significava alguém com crise de piti, que após ter amassado vários papéis, exibe-os com ar de vitória: - Amassei ó!
Após a execução, depositei o corpo do infeliz na caixa cor de rosa onde guardava os brinquedos que me desapontavam.

Na semana seguinte, fiz uma operação macabra trocando as cabeças de duas bonecas: uma loira e outra morena. Elas odiaram, choraram muito, mas mesmo assim mantive a troca pois achei que ficaram lindas.

Aos quatro anos ( congelar imagem) matei minha professora de história, pois ela insistia que não havia rei na Rússia, e muito menos príncipes e princesas.Coloquei seu corpo na mesma caixa cor de rosa que ocultei o professor de geografia.

Aos cinco anos matei Papai Noel por razões óbvias: ele simplesmente não existia. E o danado do velho continuou me trazendo presentes mesmo depois de morto.

Aos doze, me apaixonei perdidamente por meu professor de matemática de quarente e dois. Descobri então que ele era casado com uma louraça comprida, e com ela havia dividido e multiplicado. Dessa operação resultou em dois moleques mal encarados. Desolada, decidi suicidar-me devorando uma tigela imensa de gelatina de morango. Gelatina light pois não queria engordar. A tentativa foi frustrada, mas o conteúdo da tigela estava uma delicia. Lembro-me até agora de ter raspado com a colher até o último vestígio daquela maravilhosa iguaria adornada com frutas vermelhas.

Aos quatorze anos, eu... Não! Não vai dar tempo... Brammmmm... Ai ai ai que dor!!!
Meu traseiro vai de encontro ao tapete da sala de estar, e a escada capenga cai estrondosamente para o outro lado.

- Eu sempre disse que odiava trocar lâmpadas!!! Ai que dor!!!



Colibri Inquieto.

domingo, 2 de maio de 2010

Tudo que não existe

Tudo acontecia a poucos passos, em todas as direções.

Havia um ecossistema próprio.

E eu aqui, sem saber ao certo como buscar a intercessão.

Colocar-me em comum.

Colocar-me em coletivo, ou como protagonista de algum modo que não seja senão o meu.


Um homem ao lado fala de forma expressiva.

Quase impositiva.

Gesticula de forma enérgica, sem se importar com o reflexo disso aos demais.

Típica situação de incerteza, se havia vontade dos outros ouvirem, ou de se libertarem de toda aquela história.

O que determina é a força contida na vontade.


Eu por exemplo, homem feito, incompreendido na minha expressão,

Coloco direção à ação, mas à vontade não muito clara.

Isso leva a atos um tanto caóticos, reforçando ainda mais minha incompreensão.


Um senhor à sombra da figueira, parece estar no infinito do seu espaço próprio.

Divagando talvez sobre o vago.

Divagando sobre o incompreendido.


Uma mulher sentanda num banco que parece de praça, fala sobre o seu amigo que está a visitá-la, mas os outros não o enxergam como deveria.


O guarda olha a tudo e a todos, com a frieza padrão, impondo sua superioridade desmedida.


E eu aqui, sem saber ao certo como buscar a intercessão.


Outro dia, recebi uma carta de um velho amigo meu.

Fiquei pois, muito feliz, visto que cartas são coisas que pertencem ao passado.

Agora, a modernidade já nos tomou a vida.

Agora, a vida é cibernética.

E os correios, que acertem o passo.


Então, a carta. A carta do meu amigo.

Quantas surpresas!

Surpresa pela carta por si só.

Surpresa da sua origem: meu amigo tão distante, meu sangue, meu irmão, minha carne.

Eu era a unha, ele a carne.

E de repente, a decepção, o medo, a incerteza, o afastamento... tudo aquilo que constitui um abismo entre uma unha e uma carne.


As coisas deveriam ser mais simples.

Deveria haver uma bula básica, com indicação das coisas que acontecem, e como resolvê-las.

Colocando essa idéia no mundo real, deveria haver um manual de como não gerar problemas.

Veja, o homem existe há muito tempo. Há tanto tempo que nem ele ao certo sabe desde quando existe.

Todas as possibilidades de coisas que poderiam acontecer, já aconteceram.

As atitudes frente a essas coisas também já foram tomadas, validadas, sentidas, sofridas.

Por que ainda não fizeram um manual de tudo isso?

Taí a única coisa que ainda falta ser criada!


Se isso já tivesse sido criado, eu poderia consultá-lo nesse momento.

Com toda a humildade e mente aberta que fosse possível.

Nessa hora, eu buscaria no sumário o capítulo “família”.

E eu aqui, sem saber ao certo como buscar a intercessão.


Ops, o guarda se aproxima de mim.

O guarda com toda aquela pompa de “sabedor de tudo”.

Fala no tom, naquele tom desmedido.

Este guarda, camuflado de enfermeiro, faz questão de não confirmar tudo aquilo que existe dentro de mim.

É... a vida é cruel.

A vida, já foi.


E o meu amigo. Esse meu amigo que resolveu escrever, de forma a me tirar tanto assim dos eixos.

Se é que ainda tenho eixos.

Se é que ainda eu vou me libertar desse manicômio que me prenderam.

Se é que ainda terei a chance de consultar algum manual, de validar se existe eixo em mim, se a unha pode ter ainda sua carne de volta.

Mas o tempo é cruel.

O tempo é tarde.

O tempo, já foi.

consegui

em seguida, voltando, de vagar, com cuidado ..vou.
Escrever. Também. No meu português. Prova prova prova.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Meu guarda-roupa é soberano dentro do quarto. Recebe e guarda. De madeira escura, desenho sóbrio, dá dignidade ao quarto. Em cima dele duas malas, que são guarda-roupas portáteis em caso de viagem. Se move com dificuldade o guarda- roupa. Suas portas devem ser abertas com delicadeza, caso contrário ele emite um ruído constrangedor.
Herdei de minha avó esse guarda-roupa. Antes de ser dela ele havia pertencido à sua irmã, minha tia avó, que não sei se por escolha ou por destino foi viver em outro país. Quantas pessoas então já devem ter compartilhado com este móvel tão estável suas vidas inteiras, suas faces descobertas, posto que no quarto ninguém usa máscara.Ele assiste a tudo em silêncio. Esteve sempre presente. Ele sabe muito. Acompanhou cada capítulo da vida no quarto.
Um guarda-roupa dura muito tempo. Durou mais que minha avó. Ela também permaneceu imóvel nos últimos anos de sua vida. Da cama para a cadeira de rodas, da cadeira de rodas para a cama. Ela que havia sido sempre tão ativa, imóvel como um guarda-roupa. E não guardava nada, nenhuma memória mais, nenhuma palavra. Apenas um olhar vazio, do nada para o nada. Ela não funcionava mais, não tinha mais utilidade. Ele permanece imperturbável. Ela já se foi. E a quantos ainda ele sobreviverá?
Ele sabe muito de mim. Ele assistiu ao suicídio da minha mãe, às últimas palavras do meu pai. E sempre mudo. O silêncio dele é uma violência. Eu tenho raiva desse guarda-roupa que não teve sequer uma gripe. Eu tenho inveja da sua invencibilidade. A convivência entre nós começa a ficar impossível. Ele que vá assombrar outro. Eu quero que esse guarda-roupa apodreça. Apodreça sozinho na chuva. Quero ver se ele é assim tão indiferente ao tempo. Eu quero me livrar dos objetos que tem passado. Eu quero ter uma vida toda nova.
Fico arquitetando um meio de me livrar do guarda-roupa. Quando meu marido chega do trabalho tento introduzir o assunto. Ele me diz que está cansado, que precisa de um banho. Ele sempre acha que minhas necessidades são inventadas. Durante o jantar volto ao assunto. Falo da idéia de doar o guarda-roupa à alguma instituição. Invento que quero um móvel mais leve, que ocupe menos espaço. Digo que até já consultei uma transportadora e que preciso de um cheque para pagar os serviços. Ele resiste, diz que o móvel vale uma fortuna, que é herança de família, etc. Por fim, assente à contra gosto, fazendo um discurso sobre os meus caprichos. Pega o talão de cheques, assina uma folha em branco, a joga em cima da mesa e sai.
De tanta excitação durmo mal esta noite. No outro dia logo cedo resolvo todas as coisas práticas. Encontro uma instituição. Ligo para a transportadora. Ele, o guarda-roupa, permanece impassível até o último momento. Quando ele já está fora da minha casa, respiro aliviada. Me deito no espaço vazio deixado por ele. Durmo no meio da tarde, no chão do quarto.

Janjah

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quem estreirá?

Então está criado. Achei que seria um bicho de sete cabeças, mas eu já tinha uma conta inativa e foi só colocar o nosso título. Bem propício para os textos que aqui virão.